Por que a inversão das curvas de juros é um indicador ruim?
Inversão da curva de juros. O indicador que os investidores americanos mais temem. Previsor de todas as recessões desde a Grande Depressão pós-crash da Bolsa de Valores de Nova York em 1929. A “carta na manga” empregue por economistas que se relacionam com a Escola Austríaca de Economia para antever bear markets ao longo do tempo. Amedrontador para alguns, mas a constatação da veracidade mercadológica para outros. Afinal, o que é a inversão da curva de juros? E por que motivo é um sinal ruim?
A curva de juros mede a rentabilidade de títulos públicos de longo prazo de curto prazo. Isso me concede a informação de quanto rende, aproximadamente, um título de dívida do governo americano com prazo de trinta anos (um título público de longo prazo), da mesma forma que me informa sobre o rendimento do mesmo título, porém com prazo de três meses (um título público de curto prazo). Eis a curva de juros: a diferença entre a alíquota do juro de longo prazo e do juro de curto prazo.
Este juro, por regra do mercado, se adequa inversamente proporcional ao preço do título. Em outras palavras, quanto mais caro um título for, menor será a alíquota que ele paga em juros para o investidor; quanto mais barato, maior será esta mesma alíquota. Como todo produto disponibilizado no mercado, o preço do título varia conforme a Lei da Oferta e Demanda: quanto maior a demanda e menor a oferta, ou seja, quanto mais compradores e menos vendedores, mais alto será o preço do título; quanto maior a oferta e menor a demanda, ou seja, mais vendedores do que compradores, menor o preço do título. Ademais, a preferência por liquidez rege que títulos de longo prazo, teoricamente, devem render mais do que títulos de curto prazo, afinal, o investidor decide não dispor daquele capital por uma quantidade de tempo maior, o que o impede de consumir algo que enseje, devendo ser melhor recompensado por este prazo alongado em que ele deixa de dispor do que lhe deve. Dito isto, podemos direcionar nosso entendimento à conclusão que diz que “a inversão da curva de juros é danosa ao mercado e pode causar recessões”.
Em cenários onde os investidores, por quaisquer motivos, fiam-se à ideia de que pode acontecer uma crise, os seus olhos e carteiras se voltam para os títulos de longo prazo. Afinal, os títulos do governo (principalmente, os títulos do tesouro americano) são uns dos ativos mais seguros do mercado global. A fim de atravessar o suposto período de recessão com seu capital aplicado em um ativo seguro de longo prazo, com o vencimento para depois do “período recessivo”, estes investidores compram títulos de longo prazo copiosamente. Com estas operações, os títulos de longo prazo ficam mais caros, fazendo com que eles rendam menos. Da mesma forma, os títulos de curto prazo disponíveis do mercado, com menos compradores e sendo ofertados de igual forma, ficam mais baratos, o que faz com que eles rendam mais. A célebre inversão das curvas de juros é o momento em que os títulos de curto prazo começam a render mais do que os títulos de longo prazo.
Isso é uma anomalia mercadológica. Afinal, como já foi dito, os títulos de longo prazo deveriam, por regra, render mais do que os de curto prazo. Mas nem tudo é como deveria ser. A inversão da curva de juros é uma profecia autorrealizável: ela demonstra a fragilidade e é, ao mesmo tempo, a responsável pela fragilidade.
As curvas dos títulos do tesouro americano com vencimento de 1 mês e 10 anos se inverteram em 2 de março deste ano. Esta queda não foi uma surpresa pra quem conhece o funcionamento do mercado. Foi o estopim de algo que já poderia ser previsto a alguns meses. Talvez anos.
*Texto originalmente publicado no dia 17 de março de 2020, no Instagram do autor.
Nenhum comentário: